domingo, 25 de maio de 2008

PARA REFLETIR...

Onde foi que erramos?Erramos por ter nascido em meio a uma democracia natimorta, que elege sem saber votar, que se impressiona com a trajetória de um operário deslumbrado que chegou à Presidência da República Federativa do Brasil, que admira mais a trajetória alheia do que a si mesmo.

Erramos ao declarar “Cansei!” em cadeia nacional. Erramos ao nos acostumar com renan calheiros, lula em viagens de turismo, josé dirceu, palocci, cpmf, desastres de avião, crianças sendo arremessadas de janelas pelo próprio pai, balas perdidas que aleijam e matam, cracolândias. Erramos ao achar que já fizemos o bastante com o impeachment do collor.

Erramos ao achar normal o crediário das casas bahia que cobra cinco por cento de juros ao mês quando nosso salário sequer é corrigido anualmente.

Erramos ao aceitar a esmola do bolsa família, do prouni, do auxílio gás ou quando nos conformamos com um ensino público fundamental de merda, impostos cobrados em cascata, um sistema público de saúde inexistente, planos de saúde que sucateiam a nobre profissão de médico, um poder judiciário que dá mais valor à toga de seu umbigo do que aos problemas do empregado demitido que aparece de chinelos no tribunal e com o espírito de porco "sou-funcionário-público-e-que-se-fodam-os-seus-problemas".

Erramos porque acabamos dando um jeitinho. Porque nos contentamos em ser o país do futebol, da mulata do samba, do biodiesel, do presidente sem um dedo, do turismo sexual com menores. Porque é aceitável termos uma empregada em casa que não sabe ler, mas sabe assinar o recibo do salário e se orgulha por saber votar na urna eletrônica.

Erramos porque nada mais admirável do que o lucro recorde dos bancos, quando milhões de empresas morrem antes de completar um ano.Onde foi que erramos?Erramos quando deixamos de conversar porque, ah, dá muito trabalho e o tempo é tão escasso.

Erramos quando decidimos que o silêncio no carro, nas tardes de domingo e nos jantares a dois, é algo mais do que normal depois da paixão inicial de encontros urgentes, de uma rosa inesperada, de saudades que chegam a doer.

Erramos porque o erro era a única desculpa que tínhamos para não cometermos um homicídio doloso do que nos restava. O erro é sempre melhor que o dolo, menos pesado para a nossa consciência. Afinal, todo mundo erra.

Erramos por aceitar o sexo burocrático, o beijo de sempre ao dizer boa noite, o pizza-delivery aos sábados, o tanto faz, o livro de auto-ajuda “como ser feliz no casamento – os homens são de marte e as mulheres são de vênus”.

Onde foi que erramos?
Erramos ao achar que trabalhar quatorze horas por dia é necessário, que vivemos para trabalhar e não o contrário, porque se não for assim, perdemos o emprego ou não somos promovidos a sub-gerente, do sub-encarregado do sub-empregado.

Erramos ao sacrificar noites e fins de semana, reuniões com os professores da escolinha dos filhos, vésperas de natal e viagens em família por uma maldita casa própria e uma aposentadoria polpuda.

Erramos ao perder os melhores anos de nossas vidas por tudo isso, porque se não for assim, quem será por nós?

Erramos porque perdemos a fé em deus, porque deus, afinal, errou conosco.
E assim, de erro em erro, eu não consigo evitar a mesma pergunta que ressoa na minha mente como um mantra às avessas: onde foi que erramos?